Olá, Queridos Namibeanos
Sim, namibeanos, porque temos que mandar às hortas o saudosismo saloio e doentio;
Porque temos de deixar de carpir o passado para vivermos no presente;
Porque nada adianta continuarmos a dizer Moçamedes, quando na realidade aquela terra se chama Namibe.
Por isso, meus caros, eu disse e repito: “Olá Namibeanos!”
Eu sei que estais reunidos mais uma vez, no primeiro Domingo de Agosto, antigos paroquianos de Santo Adrião e de São Pedro, juntamente com os antigos residentes de Vila Arriaga e da cidade de Porto Alexandre.
E mais uma vez eu não estarei convosco fisicamente, mas somente espiritualmente.
É verdade que fui retirado do meu cargo de Pároco;
É verdade que agora não posso dizer que tenho a festa principal para presidir;
Mas também é verdade que não é impunemente que se está numa terra 27 anos e nove meses. Por tal motivo ainda sou requisitado para assistir a casamentos, sobretudo de pessoas que eu baptizei. É o que acontece este ano: enquanto vocês estão reunidos, eu estarei com os noivos, suas famílias e convidados. Não é que vocês não me mereçam mais ou menos do que eles. O caso é que nem sequer me lembrei da data quando aceitei. Somente quando o nosso querido amigo Albano me falou no convívio é que me recordei.
Mas não faz mal. O meu coração é grande, é enorme. De tão grande que abarco a todos os meus antigos paroquianos: os de cá e os de Angola! Agora já não os tenho.
Não quero ser exagerado, mas concordo com a frase de Mahatma Ghandi: “A lâmpada do coração, se acesa, ilumina o mundo”. Eu quero manter acesa a lâmpada do meu coração para que eu possa iluminar o meu mundo, o mundo em que vivo, as pessoas que estão ao meu redor, com quem me relaciono. Esse é o meu mundo.
- Meus amigos, que vos direi mais?
- Dir-vos-ei que estou a residir num T2 que comprei com a minha irmã, situado na minha terra, a Póvoa de Varzim.
- Porque é que deixei a Paróquia?
- Porque a Parkinson, que é uma doença neuro-vegetativa, faz com que o sistema nervoso se sinta afectado. Desse modo, os músculos das pernas, da coluna e das cordas vocais ficam rijos e, neste último caso, a voz fica diminuída.
Sentado, ninguém diz que o Pe. Lopes está doente. Levanta-se ou começa a falar e… logo se vê no que se transformou aquele homem vaidoso no falar, no andar e no vestir.
- Velho? – Acho que não, são somente 67 anos!
E depois quem é que é velho? “Ninguém é tão velho que não espere que depois de um dia virá um outro”, como escreveu o filósofo romano Séneca que viveu no tempo de São Pedro e de São Paulo.
A minha vida para não ser monótona, sirvo-me do computador para escrever coisas: de história, de memórias, de transcrições, etc. Aconteceu que já foram 3 os livros que fiz sair, desde que a dona Parkinson veio morar em mim, dois de história local e outro de memórias paroquianas de Laundos.
De resto eu estou em casa. Faço fisioterapia três dias por semana, acupunctura dois dias, celebro em casa sempre às 19h., antes rezo o terço pela R.R., e nos intervalos estou em frente a esta máquina que é o computador… até às duas da manhã.
Nesse dia, especialmente, me recordarei de vós na minha eucaristia.
E até sempre.
Um abraço do vosso
Pe. Dinis Lopes.
Mensagem endereçada pelo Padre Dinis da Silva Lopes à ADIMO e a todos os presentes no Encontro.
2 comentários:
Senti agora que a memória só envelhece se não houver felicidade, e foi só isso que senti quando "ouvi" estas palavras proferidas pelo Qdo Pe. Lopes, são enormes e bem vivas as q tenho de si.
Um grandissímo abraço
Rui Monteiro Paiva
Bam dia Pe Dinis
Eu sou o Carlos José que crescina casa dos rapazes do Namibe e sai com o senhor Padre no navio Silver Sky em 1976.
Foi com saudades que li a sua mensagem e desejo melhoras. Eu vivo e trabalho em Luanda desde 1998 altura que sai do Namibe.
Um abraço com muita saudade desde teu educando.
Cptos
Calos José
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